2.6.13

hospedeiro




é como saber que há um parente distante chegando
com meses de antecedência
ou anos, não se sabe
bem
qualquer vislumbre
do que possa ser
véspera
me põe trincando
às voltas com o silêncio

sei que há o primo chegando, mas não me lembro mais
desde quanto tempo
espero

e a própria espera se converte
num outro primo mais distante
ainda

a espera
toma a dimensão de um corpo
enquanto arrisca a chegada
do corpo que se espera

de repente ela já se instalou,
percorre corredores que não havia
me olha próxima e secreta
no espelho do elevador,
no tanque lotado de panos sujos
e calça meus sapatos
enquanto não me decido
se saio ou não saio de casa

e é tanto mais assustador
porque não tenho gatos
ou qualquer outra coisa
que se mexa pelo apartamento

passa algum tempo já virou o tapete da casa
um tapete bruto, macilento
cheio de pó pedindo sol
por favor sol

se escande em cada camada de poeira esquecida
naqueles lugares em que não costumamos olhar poeira
mesmo que espirremos

se denuncia em cada fio dos punhos
esfiapando-se
aos poucos

e então chega uma hora
em que temos muito pouco tempo
pra escrever um poema
ou faxinar a casa
e nos salvar

(as coisas todas são tão somente
feitas de esguelha
e parentescos  mais ou menos achegados
aguardando o sol
e o cheiro bom
das faxinas)

pra se poder receber, então
a intimidade repentina de alguém
que chegue de longe
para nos estender o que lhe é próximo

Nenhum comentário:

Postar um comentário